
Conversar sobre os desafios de um regresso às aulas conturbado pelas adversidades da pandemia de Covid-19, é falar sobre horários alargados, planos de contingência, uso obrigatório de máscara, maior vigilância dos espaços comuns, campanhas de testes ao novo coronavírus e surtos em vários estabelecimentos de ensino. Do primeiro período letivo para o segundo, o sentimento é de “receio”.
Para Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares e diretor do Agrupamento de Escolas Serpa Pinto, em Cinfães, o primeiro período letivo “acabou por correr bem” até porque “as escolas souberam-se preparar, receber os alunos e garantir que as aulas presenciais se mantivessem durante todo o período letivo”, assinala o presidente, não esquecendo a implementação de estratégias para solucionar alguns contágios que foram surgindo.
Já de regresso ao segundo período letivo, o objetivo passa por manter o ensino presencial e, na verdade, “não há nada que substitua os olhos nos olhos, entre os professores e os alunos”. No entanto, “se houver uma pressão muito forte em determinadas localidades fará sentido que o 2º e 3º ciclos e ensino secundário possam passar a ter aulas à distância” para aliviar a pressão dos transportes públicos e na própria escola.
Já Paulo Albernaz está satisfeito com a adaptação do Liceu Alves Martins, em Viseu, às adversidades da pandemia de Covid-19. Está determinado e nós sentimos. É professor de História há 33 anos e nunca pensou ter um desafio desta dimensão em mãos: “é sobre estar à altura da utilização mais ou menos massiva das novas tecnologias porque quer queiramos quer não, com os anos que já tenho de ensino, não tenho um décimo das apetências digitais que têm os meus alunos”, reconhece o professor.
Quando pensa em ensino à distância, Paulo Albernaz, visualiza a escola a perder as coordenadas para os meios digitais. E é isso mesmo. A sua localização passa a ser um mero computador “que por melhor que seja, nunca é tão bom como o ensino presencial”.
Costuma dizer que lhe dá gozo ter uma plateia de alunos que o ouve, “a quem conseguimos perceber as expressões”, refere, acrescentando que “se tivermos de passar para online, não quer dizer que seja ineficaz”.
Com uma carreira de três décadas, o professor de história acredita que “há uma coisa que se ganha com a pandemia”: a autonomia e responsabilidade dos alunos. “Os alunos com aqueles períodos que tiveram de ter ensino à distância, foram convidados a fazer muita coisa por si e ganharam níveis de autonomia que antes não tinham. Ficaram mais autónomos e responsáveis”, revela.
Para os Encarregados de Educação, “a que a maior dificuldade é transmitirmos tranquilidade aos nossos filhos”. E esse trabalho faz-se em casa. “E creio que conseguimos”, garante Rui Pinto, responsável pela Associação de Pais de Mangualde, um dos concelhos que atrasou o início do segundo período letivo para os alunos do 3º ciclo e ensino secundário, por uma semana, devido ao agravamento da situação pandémica.
No 1º período, a adaptação à nova realidade foi um verdadeiro desafio. “Tentámos arranjar salas que fossem maiores pelo facto de não ser possível reduzir as turmas, estipular uma sala para cada turma, tentámos também que fossem alterados os horários de entrada para desfasar turmas, de forma a diminuir a questão dos contágios”, explica Rui Pinto, “e creio que houve um bom trabalho”.
Contudo, “houve a questão de alguns alunos ficarem em isolamento e não tiveram qualquer aula” porque “nenhum computador fixo das salas, tinha câmara”. Entre reuniões, a Associação de Pais adquiriu 40 câmaras e fez esse donativo, “foi uma ótima solução para nenhum aluno ficar sem aulas”.
“Tentámos sempre estar sempre do lado da solução e nunca do problema”, sublinha. E o atraso do regresso às aulas foi mais um desafio, mas na opinião de Rui, foi uma solução para evitar futuros contágios em larga escala.
“Se os alunos entrassem todos presencialmente, seria certo que passado duas ou três semanas, iriamos ter vários focos na escola e correríamos o risco de ter que fechar a escola”, lembra o responsável pela Associação de Pais de Mangualde.
Para os estudantes, a escola em tempo de pandemia também é um verdadeiro desafio. Bernardo Pereira, presidente da Associação de Estudantes de Tondela, garante que a escola esteve à altura e “cumpriu sempre com tudo”, mas não esconde que “para os alunos foi um período de adaptação a todas as medidas que nos foram impostas”.
Em nome dos estudantes de Tondela, diz que a maior dificuldade é a comunicação, entre professores e alunos. “Tanto nós como os professores estamos de máscara e como há turmas grandes que estão em salas grandes, por vezes a comunicação não chega a todos”, refere.
E o que pensam do ensino à distância? Já se sabe: “aprende-se muito pouco porque como todos sabemos os docentes não têm a nossa idade e podem não saber tanto sobre a tecnologia, o que torna difícil para o professor dar a aula”, justifica, admitindo que a qualidade dos equipamentos também interfere nas próprias aulas.
Como presidente da Associação de Estudantes de Tondela, diz que se todos os alunos e professores cumprirem com as medidas “podemos evitar o regresso ao ensino online”. “A culpa não é dos docentes nem dos alunos, é da própria pandemia”, remata.
Fonte: O ano mais desafiante para professores, alunos e encarregados de educação (jornaldocentro.pt)
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